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Revolutionary Road, de Richard Yates

O primeiro livro de Yates é provavelmente a sua primeira obra-prima. O casal Wheeler representa, de certa maneira, a destruição do sonho americano. Jovem, brilhante e talentoso e aparentemente feliz aos olhos de um observador incauto, porém, a infelicidade, a angústia e a frustração crescem dentro dos seus corações qual cancro, intrometendo-se na sua relação amorosa e filial. A sua vida não é nada mais do que uma fachada que esconde sonhos ousados de glória e disfarça sob o véu da banalidade uma demanda por uma existência rica em significado e nobre que a comunidade suburbana americana dos anos 50 não pode oferecer. 

Reprimidos e forçados a desperdiçar todas as suas capacidades em ofícios que não as cultivam (April como doméstica, tendo desistido do seu sonho de ser actriz profissional e Frank com um emprego de colarinho branco) alimentam dentro do seu íntimo a esperança de uma vida melhor, trocando promessas semi-apaixonadas de uma viagem para a Europa. Frank é no entanto egocêntrico e inseguro, vendo no dom da palavra, o condão de persuadir e manipular subtilmente a sua mulher. April por sua vez, é misteriosa e orgulhosa, revelando um distanciamento em relação a Frank, apenas colmatado pela admiração que parece nutrir por ele. 
Ao longo do livro, e qual voyeurs damos por nós a observar cada segundo da vida do casal, acompanhando os seus medos, discussões, as traições, a sua relação com os filhos e amigos, os seus pensamentos mais íntimos... E tudo isto pela mão de um talentoso Yates, que parece ser dotado de uma mestria notável na construção das descrições e dos diálogos principalmente, captando as mais pequenas minúcias de carácter e comportamento e as até as mais ligeiras hipocrisias que todos nós cultivamos. As personagens bem modeladas, ganham vida perante os nossos olhos, não nos deixando indiferentes ao que o destino lhes parece reservar. 
No final tanto April como Frank não conseguem escapar ao escrutínio dos vizinhos, encarando a terrível verdade da sua relação, o que culminará numa tragédia, mudando irreparavelmente a sua vida bem como a dos seus filhos. 
Revolutionary Road é em suma um retrato fiel e incisivo de um casal tão enrodilhado nas expectativas que a classe média americana instila e nos modelos sociais e valores de boa conduta da época pós-guerra que alimenta uma promessa (justamente quando April engravida de novo) que nunca será cumprida, a única esperança que reside na sua união já envenenada pela sua existência banal e vazia, como April tão bem afirma e resume já nas últimas páginas
«... your cowardly self-delusions about "love" when you know as well as I do that there's never been anything between us but contempt and distrust and a terrible sickly dependence on each other's weaknesses - that's why. That's why I couldn't stop laughing today when you said that abouth the Inability to Love, and that's why I can't stand to let you touch me, and that's why I can't stand to let you touch me, and that's why I'll never again believe in anything you think, let alone in anything you say...». 
O primeiro capítulo é talvez dos mais importantes, uma vez que sintetiza cabalmente toda a essência do livro. A esperança que parece animar por momentos uma relação é desfeita com o «cair do pano» e um sentimento indescrítivel e ominoso que pulula no final. 

É um livro intemporal, cuja história pode muito bem aplicar-se a casais actuais. A mensagem final do livro é levemente irónica: uma resignação final, a perda da chama que animava promessas e juras de amor mesmo após todos os acontecimentos. Como diz John Givings:
«‘Wow,’ (...) ‘Now you’ve said it. The hopeless emptiness. Hell, plenty of people are on to the emptiness part; out where I used to work, on the Coast, that’s all we ever talked about. We’d sit around talking about emptiness all night. Nobody ever said ‘hopeless,’ though; that’s where we’d chicken out. Because maybe it does take a certain amount of guts to see the emptiness, but it takes a whole hell of a lot more to see the hopelessness. And I guess when you do see the hopelessness, that’s when there’s nothing to do but take off. If you can.’» 
Apreciação: 18/20

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Sinopse: Hailed as a masterpiece from the moment of its first publication, Revolutionary Road is the story of Frank and April Wheeler, a bright, beautiful, and talented couple whose empty suburban life is held together by the dream that greatness is only just round the corner. With heartbreaking compassion and clarity, Richard Yates shows how Frank and April mortgage their hopes and ideals, betraying in the end not only each other, but their own best selves.

Um casal jovem e promissor, Frank e April Wheeler, vive com os dois filhos num subúrbio próspero de Connecticut, em meados dos anos 50. Porém, a aparência de bem-estar esconde uma frustração terrível resultante da incapacidade de se sentirem felizes e realizados tanto no seu relacionamento como nas respectivas carreiras. Frank está preso num emprego de escritório bem pago mas entediante e April é uma dona de casa frustrada por não ter conseguido seguir uma promissora carreira de actriz. Determinados a identificarem-se como superiores à crescente população suburbana que os rodeia, decidem ir para a França, onde estarão mais aptos a desenvolver as suas capacidades artísticas, livres das exigências consumistas da vida numa América capitalista. Contudo, o seu relacionamento deteriora-se num ciclo interminável de brigas, ciúmes e recriminações, o que irá colocar em risco a viagem e os sonhos de auto-realização. Yates oferece um retrato definitivo das promessas por cumprir e do desabar do sonho americano.

Título original: Revolutionary Road
Idioma lido: em Inglês
Autor: Richard Yates
Editora: Random House, Vintage
Colecção: Vintage Classics
Páginas: 337
ISBN: 9780099518785

1 comentários »

  • Automatissun escreveu:  

    Teste, teste é um teste é um teste é um teste

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